quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Uma Certa Maria

- Olá, a senhora é a Maria?

- S-sim... s-sou eu...

- Quer alguma coisa, uma água, um calmante?

- N-não, n-não senhora...

- Se precisar de alguma coisa, é só pedir, tá? Eu fiz uma entrevista com seus filhos, também. A entrevista foi separada, assim como a da senhora está sendo. Eles foram avaliados pela enfermeira daqui e ela constatou que não há nenhuma lesão interna grave, apenas os sintomas visíveis mesmo. O mesmo foi apresentado na senhora. Nenhum osso quebrado ou lesão interna. Mas eu preciso lhe fazer algumas perguntas: isso já aconteceu antes?

- Como?

- O marido da senhora, já bateu em você ou na crianças antes?

- N-não. Nunca! Ele... ele... na verdade...

- Maria?

- Ele nunca bateu nos meus filhos antes. Ele é um bom pai e...

- Maria! Eu vou repetir a pergunta, porque eu acho que a senhora não está sendo sincera comigo. E caso eu consiga comprovar o contrário do que a senhora está me dizendo, a senhora pode perder a guarda dos seus filhos. Então, o seu marido já lhe bateu antes ou em algum dos seus filhos?

- Se a senhora puder entender...
- Eu só compreendo uma coisa, Maria: eu tenho duas crianças na outra sala que estão com medo do pai porque uma vez ele quase matou a mãe deles. Preciso do depoimento da senhora.

- Mas ele vai matar os meus filhos se eu assinar essa ocorrência. Será que a senhora não entende? Eu não vou surportar viver se alguém tirar os meus filhos de mim.

- Então conte a verdade. A gente garante a segurança de vocês. Pode confiar!

- Ele nunca bateu neles. Só em mim. Nunca bateu, porque eu nunca d-deixei... E-eu sempre apa-panhei no lugar deles. Até a r-raiv-va dele passar. M-mas dessa vez eu n-não t-tive força pra imped-dir. Ele tava com muita raiva. Tirou toda a minha força e foi pra cima das cria-anças...

- Então ele nunca bateu nelas antes? Mas sempre bateu na senhora?

- É...

- Há quanto tempo vocês são casados?

- 17 anos.

- Há quanto tempo ele te bate?

- 15 a-anos.

- Quantos anos tem sua filha mais velha?

- 10 anos. E o mais novo tem 7.

- Ele chegou a bater na senhora grávida?

- Uma vez. Na segunda gravidez. Achei que ia perd-der meu filho. Mas aí, ele nasceu primogênito de 8 meses.

- São 15 anos, Maria. A senhora precisa dar um basta nisso. Seus filhos cresceram vendo o pai bater na mãe deles... Se não é pela senhora, pelo menos por eles.

- Mas e se ele matar um dos meus filhos? Ele vai vir atrás da gente. Eu não posso deixar...

- A gente não vai deixar, tudo bem?

- Tudo bem. E pra onde a gente vai? Eu não tenho ninguém, não trabalho. Eu sou dependente dele.

- Nós vamos enviá-los há uma casa de apoio à família, ok?

- Tá...

- Agora, preciso que assine essa ocorrência. Nós vamos entrar com uma processo contra o seu marido de agressão dolar, e se a senhora quiser, também entraremos com processo de separação de bens. Assim, a senhora e os seus filhos não ficam totalmente desamparados.

- Me empresta a sua c-caneta. Eu v-vou querer a separação também.

- Tudo bem. É o melhor que a senhora pode fazer, Maria. Pela senhora e pelas crianças.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Das Entrelinhas

[Originalmente escrito em 4 de setembro de 2008]


"A"ndré, "B"ernardo e "C"arlos descobriram que se envolveram com a mesma mulher. Mas foram cautelosos, frios e agiram com inteligência. Agiriam diferente, se vingariam dela, e não uns dos outros.

"C"arlos sabia que "D"aniel também havia se envolvido com ela e sabia que ele estava depressivo por isso. Queria muito que ele participasse daquele complô contra aquela mulher; mas ele não apareceu. "Melhor assim", pensou ele.

Então, os três esperaram pacientemente que ela passasse por eles. Tudo estava acontecendo como o planejado. Não havia nada fora do lugar.

Eles estavam em posições discretas, no lugar certo, na hora exata.

Mas "F"lávia aparecera no local acompanhada de "E"rnesto. "Droga! O que ela fazia ali no carro dele? O que ele estava fazendo ali, com ela?"

Não podiam mais esperar. Teria que pagar o preço junto com ela. Não podiam deixar a oportunidade passar e poupar a vida de "E"rnesto. Fazer isto, era destruir a vida deles.

Então, tudo aconteceu rapidamente. Ninguém conseguiu dá evidências concretas aquele acidente.

Era o fim!

O fim da dor que aquela mulher causava a todos eles. Mas também, era o fim de "E"rnesto.

Que pena!