sábado, 10 de outubro de 2009

5 e um pequeno Tributo

Desde pequena me pergunto:
Por que o 5?
Sempre gostei – ou melhor (!)
Tive obsessão por esse simpático número
Fosse ele acompanhado ou puríssimo de outros companheiros
Sempre o achei mágico, divertido.
Às vezes me perguntava se era pelo 25.
Por que 25?
25 foi o dia em que nasci.
Mas não é o 25 em si.
É o 5.
Os anos se passaram e eu cresci com esse misterioso gosto pelo 5.
E continuo...
Gosto mais de quintetos do que de trios e quartetos.
5 é início de uma animada galera.
É mais fantástico falar 5 línguas.
E olha só: 5 é dia de pagamento.
Mas 5 também era o número do meu porto seguro.
Era. Éramos 5!
Diminuímos.
Passamos a ser 4, e depois menos 1...
3!
3... Nunca me simpatizei com este.
É número burguês,
É pequeno, não é número de família.
É número de coleguismo.
3 me causa dor, causa angústia.
Gera uma raiva cega
Que não se destina a ninguém.
Nem mesmo a 3.
3 não demonstra afeto
Mas passa agora a ter que ter.
Tem que ter força também.
Muita!
Porque 3 é número de luta.
E é sob essa condição que tenho que achar novos rumos
Novo chão.
Fixar nele a idéia nova de porto seguro.
Mas e o 5?
5 será sempre a minha família.
O meu eterno amor.
Número de pura alegria.

[Tributo a minha mãe e ao meu irmão caçula. Mas também ao meu pai e ao meu irmão mais velho. Porque são eles que compõe o meu 5]
[Escrito em 5 de outubro de 2009, em dias de doloroso luto]

sexta-feira, 29 de maio de 2009

E independente...

E independente da situação,
Independente do frio, da fome
E até da solidão.
Independe do riso, da alegria contida
Ou exuberada.
Independente da chuva que cai
Ou da noite estrelada.

Independente de você, de mim
Ou dele.
Independente de quem sofre
Ou de quem nada em felicidades.
Independente de quem morre
Ou de quem nasce.

Independente da cor, da tempestade
Ou do trabalhoso suor.
Independente do que você sente
Se é prazer ou dó.
E independente de quem seja
E em que planeta , pela vida peleja:

O SOL continua brilhando
Pra todos!
E o TEMPO continua passando.


[escrito em 18/10/2009]

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Confuso Devaneio

Pessoas rindo a minha volta
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Pessoas rindo a minha volta.
As risadas ecoam dentro da minha cabeça em um coro desafinado e estridente.
E por onde olho há sorrisos! Tantos falsos... Quais são, então, os verdadeiros?
Minha cabeça dói. Fecho os olhos tentando imaginar que nada disso existe. Mas abro minha mente para o mundo e me pergunto: será?
Felicidade essa que me toca, me ronda, estadia ao meu lado... Por que não a sinto?
Vazio que percorre minha mente, meu coração, minha espinha. Gélido arrepio que percorre meu corpo ao pensar nisso.
Maldita felicidade.
As pessoas se divertem em gestos e conversas sólidas. Falam do burguês, mas não assumem o quão medíocres são.
A paz? Não sei se existe. Assim como a felicidade. Assim como eu.
(Outubro de 2008)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Por horas... por anos...

Ele abriu os olhos, ainda pesados do sono e a encarou: “Bonita!”. Mas tão comum como as tantas outras belezas que via nas ruas. Já não era diferente ou especial. Apenas comum.
“Talvez tenha acabado...”, pensou ele.
Voltou a fechar os olhos e virou-se para o outro lado, recebendo os braços dela, lhe envolvendo delicadamente.
E assim permaneceram. Pelas próximas horas. Assim permaneceram pelos próximos anos.

[dezembro de 2008]

terça-feira, 12 de maio de 2009

O que me basta!

- Você é maluca
- Você é maluca?
Foi assim que ele se dirigiu à ela, sussurrando para que ninguém mais escutasse. Ela o ignorou, sorriu por dentro e continuou dedilhando os CDs da sessão de Bossa Nova.
- Bossa Nova, é? Desde quando?
- Desde sempre.
- Ou será desde que ela surgiu na sua vida?
Luísa pegou um CD de Nara Leão e olhou as músicas na contracapa.
- Exatamente o que quero! – e sem qualquer semblante com o amigo, foi até o caixa para pagar o Cd escolhido, com Pedro atrás, lhe seguindo.
- Mais alguma coisa? – perguntou a atendente do caixa.
- Não, só isso mesmo.
- R$ 15, 90, senhora.
- Deixa que eu pago. - Luísa olhou para ele e lhe agradeceu com um sorriso.
Pedro mostrava um ar diferente. “Está diferente...”, pensou Luísa.
- Nada tem sido como antes. – Luísa o parou no meio do estacionamento, apenas para lhe mostrar aquela verdade. Ainda que ele já soubesse.
- Eu sei, mas é tudo tão estranho...
- Pedro, há quanto tempo nos conhecemos? – Perguntou-lhe com seriedade no olhar.
- Sei lá. Talvez toda a nossa vida?
Ela sorriu, mas ainda segurando a seriedade no olhar.
- E em todos esses anos de toda a nossa vida você sempre disse que me apoiaria nas decisões que eu tomasse.
- Mas desmanchar um noivado por ela? Por uma aventura?
Luísa encarou o chão e comprimiu os lábios. Ninguém se quer fazia força para entendê-la.
- Bem-vindo a vida real. Desculpa Pedro, mas ninguém me faz me sentir como ela. Nem você. – Pedro engoliu a seco o que acabara de ouvir.
- Eu só não quero que você sofra. Tenho medo de que você esteja fazendo isso agora e lá na frente quebre a cara e se arrependa.
Ela acariciou levemente o rosto de Pedro e lhe sorriu com o mesmo brilho de sempre.
- Ninguém vai estar no meio da nossa amizade. Nem ela. É disso que eu sei que você mais tem medo: de que eu mude com você por causa dela. Mas não precisa ter medo...
Pedro riu ironicamente e voltou a andar em direção ao carro.
- E a Bossa Nova é por causa dela. Porque eu sempre gostei, mas quem estava comigo não. Ela só me deixa ser quem eu sou. E isso é o suficiente pra ter tomado essa decisão.
Pedro parou de andar e se virou para ela. Continuava parada no mesmo lugar, com o mesmo brilho. Não conseguia aceitar, mas Luísa era alguém que amava muito.
Ela caminhou em sua direção, ainda sorrindo. Pedro sabia que havia uma única resposta, na ponta da língua de Luísa, para cada pergunta que fizesse a ela.
- Ela me faz feliz e isso basta!
- E sempre bastará? Não importa o quanto dure?
- Exatamente. Vamos?!
Pedro sorriu. Ainda que negasse aquele relacionamento, se sentia feliz porque era isso que Luísa lhe passava. E era isso que ela queria viver naquele momento: felicidade.

(Dezembro de 2008)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ana e o Século XXI



- Oi Aninha... – disse o primeiro dando uma piscadinha e o sorriso charmoso que sempre dirigia a ela.
- Tudo bem Ana? – informou a presença do segundo, já entrando, mostrando seriedade nos passos firmes e no tom de voz que usava.
- Oi meninos! – respondeu uma Ana surpresa ao vê-los ali, e dando espaço para que o primeiro que se chamava Pedro, passar.
- Eu sei que não esperava a nossa presença aqui tão cedo, ainda mais pelos trajes em que se compõe. Mas não há nada aí que nenhum de nós não tenha visto, não é mesmo? – ensaiando uma risada para tentar descontrair o ambiente, disse Pedro, sem muitos sucessos, principalmente com o olhar de repreensão de Ana. – Bom... Eu e o João passamos aqui porque queremos ter uma conversa séria com você, Aninha.
E em uma cena engraçada, Pedro sentou-se ao lado de João. Ana, sem entender bem o que os dois faziam ali, em sua casa, sentou-se de frente para eles, na mesinha de centro, sem acreditar no que acontecia.
- Ana – o tom ainda muito sério de João avisava que o assunto era importante – eu serei prévio e sem delongas. Nós, eu e o Pedro, estivemos conversando e chegamos à conclusão de que você deve escolher logo de uma vez com quem você vai ficar.
Surpresa com o que ouvia, mas ainda mais engraçado do que poderia achar, Ana soltou uma risada debochada, sem acreditar que os dois se reuniram para falar sobre ela e agora a obrigava a fazer uma escolha.
- Meninos, queridos, acordem! Século XXI. Ninguém é de ninguém até que se prove o contrário. Não tenho que fazer essa escolha... De onde tiraram essa ideia maluca?
- Ana! A gente ta falando sério. Tanto eu quanto o Pedro queremos compromisso com a mulher que amamos.
- E alguém perguntou se eu quero compromisso? Meus amores desculpem se machuco vossos preciosos corações, mas se é isso que acham, não posso fazer nada.
- Aninha? Você não acha que já aproveitou por demais a vida? – tentou argumentar um Pedro apaixonado.
- Não há idade e nem apenas uma forma de aproveitar a vida.
- Aninhaaaa... Você não vê o quanto estamos presos a você?
- Se é por isto? – Ana se levantou em resposta a Pedro, e a João também, foi até a porta, a abriu e disse – estão livres, rapazes! E se não se importarem, sem as devidas delongas prometidas, porque tenho visita em casa.
E com um sorriso malicioso, mas livre, Ana, ou Aninha, fechou a porta atrás de si, encerrando aquele assunto de século XXI.
[agosto de 2008]

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Pequeno Girassol

O vento batia suavemente em seu rosto, mexendo seus cabelos que
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O vento batia suavemente em seu rosto, mexendo seus cabelos que já batiam na altura do queixo. “Ela pediu tanto pra que eu cortasse o cabelo...”, pensou consigo mesmo.
Logo iria anoitecer e ele precisava ir embora, mas não conseguia se mexer. Algo o prendia ali. “Mas o quê?”, perguntou-se.
Olhou para baixo. Passou-lhe novamente pela cabeça o quanto o prédio era alto.
Girava um pequeno girassol na mão. “Minha flor favorita. E a dela também.”
Sentiu suas pernas doerem por estar a tanto tempo sentado ali, na mesma posição. Mas ainda assim, não conseguia se mexer.
“Gosto tanto dela. Mas ela não parece notar. Queria que me gostasse como gosto dela.”
Olhou tristemente para o girassol e mais vez para o movimento na avenida que corria abaixo de seus pés.
“Mas hoje! De hoje não passa. Hoje você ficará sabendo do meu gostar por você.”
Retirou do bolso do casaco, um papel bonito e dobrado. O encarou e o beijou: “Hoje saberá! Aqui há os meus sentimentos. Aqui há a nossa rima favorita.”, e o guardou de volta no bolso do casaco.
“Hora de ir...”. Levantou-se com todo cuidado para não cair. Mas nesse cuidado consigo, sem querer, descuidou-se do pequeno girassol e o deixou se soltar de sua mão.
“Não!”, e ao tentar recuperá-lo, se desequilibrou e já não sentiu mais o concreto lhe sustentar.
“12 andares!”
Foi a única coisa em que conseguiu pensar, e no rosto dela, até que seu corpo atingisse o concreto novamente, lhe sustentando e sendo pintado de seu vivo vermelho, com um poema e sentimentos escritos em um papel bonito e dobrado, guardados no bolso do casaco. E um pequeno girassol, terminando de colorir o seu simples fim.

(dezembro de 2008)