sábado, 3 de setembro de 2016

Carta às amigas e amigos professores

Minhas amigas e amigos, colegas de profissão: lhes peço alguns minutos de sua atenção. 
Eis que nos chegam tempos já vividos em nossa história.
Ao iniciar a parte histórica datada em 1964, e, mais especificamente, a partir de 1968, o Brasil, nosso país, passava por um difícil confronto, em que a área da Educação sofria diversos ataques e desmontes da educação que Paulo Freire, os movimentos sociais, e os intelectuais do grupo de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro cerceavam – em linhas filosóficas diferentes, para nosso país. Tudo o que se avançara na Educação em termos de reorganização e valorização da educação e dos trabalhadores da educação, tomava um destino terrível em regredir.
Passados mais de 50 anos desde o golpe militar, a história se data novamente de um campo e cenário político extremamente delicado – das instâncias municipais, estaduais, federal; da educação infantil até o mais alto nível da educação superior. Novamente, a educação passa por diversos ataques que arrebentam com todos os avanços conseguidos até aqui (conquistas que não se devem a partidos - o mérito é da militância popular e do povo). Em meio à luta em fortalecer nossas conquistas, nos vemos entre pautas antigas em manter o que já foi aprovado, e em negar o que já foi rejeitado. Lutamos para que o governo desse país não transforme toda a educação em produto de mercadoria, matando o direito constitucional do acesso gratuito a uma educação pública – que ainda não é de qualidade, e que ainda não é laica.
A história vem se repetindo entre os retrocessos que vamos tomando. O objetivo: manter o controle sobre nós, classe trabalhadora. Como isso está acontecendo: retomando a educação infantil para o privado, limitando vagas para o fundamental e mais ainda para o médio, empurrando a educação de nível médio e superior para a mão privatista, por meio do discurso de que seremos “Havard”, quando na verdade o que nos espera são “Anhagueras”, que matam em sua essência a pesquisa, a extensão, e até o ensino. Volta-se a atacar e fragilizar a ciência, em nome de uma religião e religiosidade. Acaba-se com concursos públicos, expandem-se as contratações terceirizadas, fragilizando a carreira docente. Apostila todo nosso conhecimento e um padrão único e limitado a ser atendido, mata a criatividade – o ato de criar nosso trabalho. Questiona a importância da educação infantil, desprezando todo o estudo sobre essa base tão importante. Projetos de lei para punir, controlar, prender, calar o professor e a professora. Cortam-se verbas destinadas para as bolsas nos Institutos Federais (que estão sob a ameaça de virar sistema "S") e das universidades públicas – ensino médio, tecnológico e superior. Fala-se em valorizar o professor, mas não pelo ofício de seu trabalho, e sim, pelas medidas que nos empurram ao voluntariado, missionarismo, a valorização pelo cunho sacerdotal, religioso. Entregam a direção de nossas instituições a “outrem”, novamente. Só que dessa vez, não são militares, mas religiosos e capitalistas. Ordenham nossa educação com a finalidade única de atender a demanda do mercado. Sem essência histórica e crítica. Fábrica de salsicha, novamente. Opta-se por não investir, mas cortar a educação da nossa sociedade. Optam por matar o conhecimento científico e cultural da humanidade.
A estima não é das melhores. Os tempos são difíceis meus amigos e minhas amigas. Mas não podemos ceder. A história se repete pelo seu lado obscuro, repressor. Mas também se repetirá pelo seu lado libertário, emancipador. É nossa vez de resistir na história. De manter nossos braços atados e se impor como muralha forte que resiste pela força popular. E não há de se tomar postura em esperar pelo outro. Nós somos a classe. A classe é quem faz o direito para si, nenhum outro o fará. Somos nós por nós. É tempo de fazer trabalho de base - e este começa pela nossa sala de aula, pela conversa com os pais de nossos alunos, com os trabalhadores que encontramos dentro do ônibus. É a nossa vez de resistir nos tempos sombrios – ser professor nunca nos foi fácil, porque não é o sacerdócio que nos chama, e sim a militância. E a militância é caminho de luta e resistência. A história se repetirá pelo seu lado libertário, emancipador. Não hesitaremos em desistir agora.
Pois a educação não é mercadoria. Ela é direito e pertence a nós.
Um fraterno abraço de resistência e resiliência.
Ass: uma professora.

domingo, 21 de agosto de 2016

Coisas que eu queria que meu pai soubesse

Em 1998, a seleção brasileira de futebol masculino disputava a final da Copa do Mundo na França, e teve uma derrota feia, decepcionante. Me lembro com exatidão a expressão de decepção no rosto do meu pai. Grande torcedor do esporte brasileiro. Suas apostas, naquele dia, não foram as melhores. Mas meu pai nunca deixou de acreditar na juventude que representava o Brasil, nas disputas esportivas.
Hoje eu percebi como eu não acredito mais nas disputas esportivas do futebol masculino, e até venho torcendo contra. Pra mim está tudo sempre combinadinho. Mas pensei no meu grande pai. E sei que essa não seria sua ação. Porque meu pai era o cara que mesmo depois de muitas decepções e rasteiras, continuava acreditando.
Eu só queria que de alguma forma as pessoas soubessem que eu realmente estou me esforçando pra continuar acreditando - na vida, nas pessoas, nas coisas, nas escolhas... E queria que o meu grande pai soubesse que eu tô tentando seguir seus passos, seus princípios e ser a melhor pessoa que eu possa ser.
Hoje eu queria ligar pra ele pra dizer isso que eu tô me esforçando.
Que bom que a seleção brasileira de futebol masculino levou o seu primeiro ouro, e bem nas Olímpiadas Rio 2016.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Carta aos amigos e amigas militantes desse meu Brasil

Sobre a Educação no Rio Grande do Sul.

A condição de trabalho, carreira e salário no Estado do Rio Grande do Sul anda em estado de alarme e pede luta e resistência. Usando das ferramentas que incentivam um regime hierárquico, o governo do estado, Sartori, coibi e ameaça materialmente os professores que aderirem a greve, acatada em assembleia pela categoria: haverá corte de pontos. A nossa solidariedade a categoria docente do Rio Grande do Sul tem que mostrar apoio e incentivo: não será a primeira vez que governos ameaçarão nossa categoria em cima de nossos salários. O avanço vem com o arrocho na resistência em nossa ousadia em lutar. Ontem fiquei sabendo que uma escola decidiu por não aderir a greve, por conta de seus salários, que já estão em parcelas, como se fosse relação com as Casas Bahia.
Pois bem, a juventude nos deu banho de lição em ousadia, resistência e luta e não foi para a aula. Aderiu a greve em nome de seus professores. 

Procurando por notícias na internet, me deparo com a ocupação de 20 escolas pelos estudantes secundaristas, e até uma escola que teve seu nome alterado em uma assembleia estudantil (de Costa e Silva, passa a se chamar Edson Luís, estudante morto durante a ditadura militar de 1964), dizendo que chegará o momento em que não haverá mais nome de ditador sendo homenageado nesse país.
A escola pública nos pertence.

Todo apoio a luta dos professores e dos estudantes secundaristas do Rio Grande do Sul.

#ocupaeresiste #ocupatudo #educaçãonãoémercadoria


domingo, 15 de maio de 2016

Sobre esse 13 de maio que não pode passar despercebido.



A Princesa Isabel é referendada nos livros didáticos como grande heroína da abolição da escravatura, após aproximados 350 anos de escravidão de negros e negras, trazidos da África.
O que os livros didáticos, encabeçado pela ideologia positivista, liberal e da direita, nunca nos contaram é que uma grande parte dos negros e negras já não eram mais escravos. A alteza do passado apenas cedeu a pressão internacional do grande famigerado capitalismo que precisava de mão-de-obra que sustentasse o mercado - tanto trabalhando sob um baixo custo ao suor de muito trabalho, quanto consumindo.

Os livros didáticos também não nos contaram sobre como os movimentos abolicionistas e quilombos ganhavam força na luta pela condição de escravo dos negros e negras. E que este tiveram grande importância na luta, até que o 13 de maio se concretizasse.

E o que mais me indigna e entristece é que o 13 de maio se concretizou após duas décadas alforriando legalmente os negros e negras da condição de escravo, e não houve sequer alguma medida do Brasil Império para que a população negra tivesse condições de sobrevivência e de viver uma real liberdade. Desde que o processo de alforria de massas de negros e negras se inicia no nosso país, esta população foi sendo expulsa das fazendas, sem trabalho, sem moradia. E foi constituindo suas comunidades urbanas e rurais marginalizados dos direitos civis e perseguidos pela justiça e poder de polícia - como ainda são.

Somente com muita luta, essa população teve direito a ser inserida nas escolas públicas, na década de 1920, já no Brasil República. E ainda assim, em condições de resistência. As condições para inserir a população negra com efetiva matrícula na educação pública, tanto de crianças e adolescentes, como de jovens, adultos e idosos, se concretiza com veemência e aumento quantitativo, há 22 anos, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1994.

Mas esse 13 de maio ainda tem muita luta para se marcada e conquistada. Pois a população que entra na taxa de desistência da escola pública tem não apenas classe, mas uma representatividade massiva em negros e pardos (seguindo a estimativa do IBGE).

Esse 13 de maio ainda não tem a integridade do que se merece ser conquistado: pela situação de vida e vivência das favelas brasileiras, dos quilombos, e população pobre do campo. E não tem porque na luta, brancos como Princesa Isabel são tratados como heróis. E não a população negra que sofreu e ainda sofre consequências de uma elite que enriquece as custas da exploração.

Viva o 13 de maio!
Em memória da nossa marcha, até que sejamos livres.