quarta-feira, 6 de maio de 2009

Pequeno Girassol

O vento batia suavemente em seu rosto, mexendo seus cabelos que
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O vento batia suavemente em seu rosto, mexendo seus cabelos que já batiam na altura do queixo. “Ela pediu tanto pra que eu cortasse o cabelo...”, pensou consigo mesmo.
Logo iria anoitecer e ele precisava ir embora, mas não conseguia se mexer. Algo o prendia ali. “Mas o quê?”, perguntou-se.
Olhou para baixo. Passou-lhe novamente pela cabeça o quanto o prédio era alto.
Girava um pequeno girassol na mão. “Minha flor favorita. E a dela também.”
Sentiu suas pernas doerem por estar a tanto tempo sentado ali, na mesma posição. Mas ainda assim, não conseguia se mexer.
“Gosto tanto dela. Mas ela não parece notar. Queria que me gostasse como gosto dela.”
Olhou tristemente para o girassol e mais vez para o movimento na avenida que corria abaixo de seus pés.
“Mas hoje! De hoje não passa. Hoje você ficará sabendo do meu gostar por você.”
Retirou do bolso do casaco, um papel bonito e dobrado. O encarou e o beijou: “Hoje saberá! Aqui há os meus sentimentos. Aqui há a nossa rima favorita.”, e o guardou de volta no bolso do casaco.
“Hora de ir...”. Levantou-se com todo cuidado para não cair. Mas nesse cuidado consigo, sem querer, descuidou-se do pequeno girassol e o deixou se soltar de sua mão.
“Não!”, e ao tentar recuperá-lo, se desequilibrou e já não sentiu mais o concreto lhe sustentar.
“12 andares!”
Foi a única coisa em que conseguiu pensar, e no rosto dela, até que seu corpo atingisse o concreto novamente, lhe sustentando e sendo pintado de seu vivo vermelho, com um poema e sentimentos escritos em um papel bonito e dobrado, guardados no bolso do casaco. E um pequeno girassol, terminando de colorir o seu simples fim.

(dezembro de 2008)

2 comentários:

Thaise de Melo disse...

Nossa, acho que fiquei sem ar.
Texto surpreendente.
Saudade da senhora por aqui.

Fique em paz.

♫ Quel ♫ disse...

Triste, mas lindo!
E profundo...!

Adorei!

^^